Você já imaginou como seria Ipatinga sem o
Parque Ipanema? Não? Então vamos falar um pouco sobre um cenário imaginário, no
qual a ausência do Parque é real.
Imagine que Ipatinga é uma cidade industrial,
construída sobre o “colosso Usiminas” tal qual está em seu hino, e que esta
mesma cidade foi sendo desenvolvida acompanhando o ritmo da construção das
cidades-empresas onde o que mais vale é o lucro antes das pessoas. Agora,
imagine que os bairros desta cidade foram sendo construídos mediante a
adequação das qualificações profissionais, alocando engenheiros em bairros para
engenheiros, supervisores para os bairros de supervisores, técnicos para os
bairros de técnicos, “peões” para bairros de “peões” e profissionais liberais
ou comerciantes para bairros que escapem do núcleo duro da cidade-empresa.
Para quem conhece Orwell, essa nossa cidade
imaginária lembra bastante o cenário industrial de 1984, onde cada pessoa é
desprovida de sua individualidade e de seus direitos sociais, escondidos sob o
manto do desenvolvimento e da proteção, onde cada vez mais se deslocam as
massas para a produção, traduzindo o espaço em uma região de tom cinza,
desprovida de beleza ou de harmonia natural em suas formas, e desenhada na
perspectiva do quadrado espanhol, tal qual os modelos de urbanização dos
colonizadores da América Latina.
Agora, imagine que em meio a esse quadrático
cinza surge um espaço de sociabilidade inimaginável, onde a presença da divisão
das classes não é mais vista, onde todos se tornam um mesmo povo, livres das
dinâmicas cotidianas e envoltas no manto verde da florescência natural, onde
cada um pode expressar livremente sua liberdade e considerar suas próprias
ideias; onde podemos amar, nos amar e amar aos outros. Eis que surge a vida,
este complexo concebido apenas enquanto sua ação, sua existência.
Este cenário, onde surge um espaço de
sociabilidade tão importante para a vida da comunidade, da sociedade, é o
Parque Ipanema, que vem sendo desconstruído por razão do descaso e do desamparo
político e da própria população. O Parque Ipanema representa muito mais que um
reduto de sociabilidades e liberdade, ele representa A LIBERDADE, onde não é
levado em conta o quanto de dinheiro você tem, se você anda de bicicleta ou de
carro, onde você mora, onde você estuda. Nada disso é levado em consideração
neste espaço porque lá somos todos apenas um único povo, resistindo de forma
pacífica ao modelo de destruição contínua!
Lutar pela manutenção do Parque Ipanema é
garantir tão somente o direito de lazer, um dos direitos sociais presentes em
nossa Constituição Federal de 1988, escrita após 30 anos de repressão e de
conluio político. Lutar pela manutenção do Parque Ipanema é lutar pela
emancipação da liberdade política de desfrutarmos da felicidade. Felicidade em
poder aproveitar um dos últimos redutos onde, gratuitamente, temos garantida a
vida, a natureza e o direito à vida.
Lutar pelo Parque Ipanema é lutar por uma
Ipatinga diferente, capaz de nos permitir sermos menos egocêntricos e mais
apreciadores de nós mesmos e dos outros. É amar-nos antes! E cabe a nós mesmos
o usufruto e a preservação do local, levando em consideração que toda a
população, ainda que não cotidianamente, faz uso de suas potencialidades, de
seus gramados e bancos, de suas pontes, de seu espaço. O Parque Ipanema é, de
certo modo, tão importante para Ipatinga que é nosso cartão postal. Quando as
pessoas visitam a cidade, sempre comentamos do Parque, e todos que o avistam
querem lá estar, querem comentar sobre sua importância vital para a cidade e
para seu povo.
Lutemos
pelo Parque Ipanema, lutemos por nós mesmos, antes que nossas forças se esvaiam
e nos seja tirado o direito à liberdade, o direito a convivência e o direito a
luta. Liberdade, antes que tardia, é o que precisamos, e só com o apoio e a
luta é que conseguiremos reconstruir nosso último reduto de acesso livre para
toda a população.
Walisson Pereira Fernandes
(Paulistinha)*
Colaboração Francisco Petrônio, Juliana Furtado e Sabrina Aquino
Coletânea virtual que fizemos para galera ir/voltar ouvindo