terça-feira, 6 de novembro de 2012

Manifesto pelo Parque Ipanema: Algo de novo sob o sol



Você já imaginou como seria Ipatinga sem o Parque Ipanema? Não? Então vamos falar um pouco sobre um cenário imaginário, no qual a ausência do Parque é real.
Imagine que Ipatinga é uma cidade industrial, construída sobre o “colosso Usiminas” tal qual está em seu hino, e que esta mesma cidade foi sendo desenvolvida acompanhando o ritmo da construção das cidades-empresas onde o que mais vale é o lucro antes das pessoas. Agora, imagine que os bairros desta cidade foram sendo construídos mediante a adequação das qualificações profissionais, alocando engenheiros em bairros para engenheiros, supervisores para os bairros de supervisores, técnicos para os bairros de técnicos, “peões” para bairros de “peões” e profissionais liberais ou comerciantes para bairros que escapem do núcleo duro da cidade-empresa.
Para quem conhece Orwell, essa nossa cidade imaginária lembra bastante o cenário industrial de 1984, onde cada pessoa é desprovida de sua individualidade e de seus direitos sociais, escondidos sob o manto do desenvolvimento e da proteção, onde cada vez mais se deslocam as massas para a produção, traduzindo o espaço em uma região de tom cinza, desprovida de beleza ou de harmonia natural em suas formas, e desenhada na perspectiva do quadrado espanhol, tal qual os modelos de urbanização dos colonizadores da América Latina.
Agora, imagine que em meio a esse quadrático cinza surge um espaço de sociabilidade inimaginável, onde a presença da divisão das classes não é mais vista, onde todos se tornam um mesmo povo, livres das dinâmicas cotidianas e envoltas no manto verde da florescência natural, onde cada um pode expressar livremente sua liberdade e considerar suas próprias ideias; onde podemos amar, nos amar e amar aos outros. Eis que surge a vida, este complexo concebido apenas enquanto sua ação, sua existência.
Este cenário, onde surge um espaço de sociabilidade tão importante para a vida da comunidade, da sociedade, é o Parque Ipanema, que vem sendo desconstruído por razão do descaso e do desamparo político e da própria população. O Parque Ipanema representa muito mais que um reduto de sociabilidades e liberdade, ele representa A LIBERDADE, onde não é levado em conta o quanto de dinheiro você tem, se você anda de bicicleta ou de carro, onde você mora, onde você estuda. Nada disso é levado em consideração neste espaço porque lá somos todos apenas um único povo, resistindo de forma pacífica ao modelo de destruição contínua!
Lutar pela manutenção do Parque Ipanema é garantir tão somente o direito de lazer, um dos direitos sociais presentes em nossa Constituição Federal de 1988, escrita após 30 anos de repressão e de conluio político. Lutar pela manutenção do Parque Ipanema é lutar pela emancipação da liberdade política de desfrutarmos da felicidade. Felicidade em poder aproveitar um dos últimos redutos onde, gratuitamente, temos garantida a vida, a natureza e o direito à vida.
Lutar pelo Parque Ipanema é lutar por uma Ipatinga diferente, capaz de nos permitir sermos menos egocêntricos e mais apreciadores de nós mesmos e dos outros. É amar-nos antes! E cabe a nós mesmos o usufruto e a preservação do local, levando em consideração que toda a população, ainda que não cotidianamente, faz uso de suas potencialidades, de seus gramados e bancos, de suas pontes, de seu espaço. O Parque Ipanema é, de certo modo, tão importante para Ipatinga que é nosso cartão postal. Quando as pessoas visitam a cidade, sempre comentamos do Parque, e todos que o avistam querem lá estar, querem comentar sobre sua importância vital para a cidade e para seu povo.
 Lutemos pelo Parque Ipanema, lutemos por nós mesmos, antes que nossas forças se esvaiam e nos seja tirado o direito à liberdade, o direito a convivência e o direito a luta. Liberdade, antes que tardia, é o que precisamos, e só com o apoio e a luta é que conseguiremos reconstruir nosso último reduto de acesso livre para toda a população.

Walisson Pereira Fernandes (Paulistinha)*
Colaboração Francisco Petrônio, Juliana Furtado e Sabrina Aquino

Coletânea virtual que fizemos para galera ir/voltar ouvindo



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