terça-feira, 3 de maio de 2011

Matéria muito interessante sobre a influencia das mídias sociais no jornalismo hoje, baseada no caso da morte do Osama

Perto da meia-noite (horário de Brasília), o diretor de comunicação da Casa Branca, Daniel Pfeiffer, anunciou no Twitter: “POTUS (sigla para Presidente of the United States) fará um discurso à nação hoje às 10h30 PM Eastern Time”. A conta oficial de Barack Obama no Twitter confirmou o anúncio, com link para a transmissão oficial. A especulação sobre o conteúdo só aumentou conforme jornalistas, blogueiros e analistas de política começaram a discutir o teor de um discurso anunciado e preparado às pressas em uma noite de domingo. Quarenta minutos depois (segundocontagem do New York Times), a notícia começou a ganhar corpo: Keith Urbahn, chefe de pessoal do ex-secretário de defesa Donald Rumsfeld, afirmava, a partir do relato “de uma pessoa com reputação”, que o terrorista Osama bin Laden havia sido morto. “Coisa quente”, finalizou. Quentíssima.
Com um espaço de minutos (provavelmente o tempo que jornalistas e blogueiros levaram para confirmar a informação), a morte de bin Laden começou a ser reafirmada e replicada usando fontes anônimas dentro do governo. Trata-se de um quebra-cabeças onde as peças (nem todas genuínas) vão se encaixando em questão de minutos. Steve Brusk, da CNN, confirmou se tratar de um anúncio sobre segurança nacional. O conservador Talking Points Memo citou duas fontes anônimas para confirmar a informação que já circulava no Twitter. O liberal Huffington Postpreferiu se ater à confirmação da Associated Press.
Imediatamente, buscas referentes a bin Laden começaram a inundar buscadores. O gráfico do Google Trends mostra como o nome do terrorista foi o termo que mais cresceu assim que a primeira informação foi publicada. Tags como “osama” e “bin laden” sofreram o mesmo fenômeno no Twitter. No Google Maps, um usuário marcou a suposta mansão onde o terrorista foi morto. Em pouco mais de 14 horas, o vídeo do discurso de Obama no canal da Casa Branca no YouTube acumula mais de 770 mil exibições. Overbete da Wikipedia foi atualizado em tempo real (não sem a devida polêmica). Fez-se a peregrinação completa por todas as plataformas digitais que uma notícia do tipo exigia.
Logo após o burburinho no Twitter e da mídia online, veículos tradicionais foram atrás da notícia. O New York Times foi o primeiro jornal de relevância a confirmar a informação. Segundo o próprio jornal, CNN, NBC, ABC e CBS (ah, o gosto americano pelas letrinhas…) interromperam suas programações para colocarem jornalistas ao vivo comentando o iminente anúncio de Obama. Entre entrevistas com analistas de política ou ex-membros do governo, confirmações e outros detalhes apurados pelos jornalistas eram anunciados. O discurso de Obama ainda atrasaria uma hora em relação ao horário original.
No Brasil, tanto canais de TV como portais demoraram ainda mais para dar a notícia. O Terra foi o primeiro, citando a CNN. Logo depois vieram UOL e Globo.com (que, como acontece em momentos de relevância jornalística, abriu online o sinal do canal Globo News). Enquanto a TV aberta deixou a notícia de lado por mais tempo, os canais de notícias(Record News e Band News, além do já citado Globo News) adotaram postura semelhante aos seus equivalentes americanos, replicando informações e reproduzindo o sinal do noticiário nos Estados Unidos.
O furor online envolvendo a morte de bin Laden, nove anos depois dos ataque de 11 de setembro, é um belo exemplo da profunda mudança pela qual o ciclo de notícias passou com a ascensão das plataformas de comunicação facilmente acessíveis. O gráfico acima, montado pela agência de comunicação Burson Marsteller, ilustra bem como o processo pelo qual um fato vira notícia mudou: como testemunhas e insiders podem publicar informações diretamente, sem a necessidade de intermediários, um novo estágio neste ciclo se instaura, um estágio passado quase que na sua totalidade no Twitter. Informações extremamente relevantes ganham espaço nesta nova dinâmica de criação e distribuição de notícias. No pico, foram mais de 5 mil por segundo sobre o fato ontem, segundo dados oficiais do Twitter. Levado nos ombros por outros usuários, o de Urbahn está, definitivamente, no topo.
Jornalistas de veículos sempre tiveram visibilidade a partir do momento que informações quentes apuradas iam diretamente para as páginas de jornais e revistas ou para os templates dos sites. Alimentada pela credibilidade de um ex-assessor do governo, a notícia aventada por Urbahn se alastrou. É o chamado “capital social”, valor difícil de ser mensurado que as conexões formadas ao redor de Urbahn (ou de qualquer indivíduo) representam.
Foi o que o blog Business Insider chamou de “momento CNN do Twitter“. O canal de notícia ganhou projeção nos Estados Unidos em 1990, quando fez a cobertura mais profunda sobre a Guerra do Golfo. A plataforma de microblog em si não tem méritos jornalísticos (a ferramenta é o que a gente faz dela), mas colhe os louros por dar a gente como Urbahn a capacidade de fazer com que a imprensa inteira corra na direção apontada.

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